sábado, 1 de maio de 2010

vi * * * m a r i a



Houve um segredo. De quem teve medo. Guardou-se a sete chaves. As chaves até perderam: nas fagulhas do tempo.



a menina Maria usava vestido rosa, enfeitava o cabelo com um laço e dava um nó nas sandálias que apertava-lhe os pés.


ela apenas via...


apenas via porque não tinha boca, nem tinha nariz, nem tinha ouvido...


ela nunca sorria...ela apenas olhava a água doce do córrego ainda limpo correr para sei lá onde...


uma cobra cascavel veio-lhe tirar os sentidos.


Essa senhora que se arrastava pelos gramados e pela lama da fazenda, não possuía sensibilidade para entender o que uma pobre menina vestida de rosa faria com tantos sentidos...


eis que então tirou-lhe quase todos...


pois deixou os olhos para que ela visse


visse a grama verde sendo comida pelo boi


visse o pássaro voando em comitivas para sei lá onde.


visse ela mesma se arrastando perversa, venenosa e peçonhenta pela areia branca, fazendo trilhas pelo caminho


seu guizo é escutado, menos pela pobre maria


maria menina morena... com olhos de feno


olhos escurecidos que anoiteceram cedo


logo quando a cobra a enrolou pelo pescoço, foi-se alisando e soltando seu veneno...


maria ainda ouvia


ainda ouviu o guizo traiçoeiro


parecia uma música de ninar


mas era a cobra a celebrar


olhos de serpente, corpo comprido... tiraram-lhe mãos e pernas


e ela esbraveja doida


urrando ao céu em nome de algum culpado


pela triste desgraça de rastejar


rastejou muitos morros para chegar em maria


e maria nem nascia


mas quando maria nascia a cobra maldita já vinha


toda se remexendo, serelepe e


tomou a menina e a enroscou... seu guizo feriu os ouvidos


mas ela enganou para que cantasse uma melodia.


maria nascia e morria


morria nela o dia


o dia de sorrir, de falar e de escutar


agora agorinha maria só via


a venenosa abriu a boca, ergueu as presas e envenenou o rio


que corria doce na frente do olho de maria


maria pegou uma enxada...que o pau carpia


sem hesitar abriu a cobra sei lá um dia


tirou todos os seus roubados e costurou


na velha máquina que começava cantarolando um som tão sereno


cheio de batuques e maria ia sorrindo pregando a boca de volta,


o difícil foi o nariz que se entupia por um descuido da pobre maria


mas logo cheirou


e cheirou o rio e lambeu o doce


ai maria! ela nem sabia


que ali o veneno corria...


as chaves desse segredo estavam no bucho da cascavel... ai! eu abri e vi o que ainda maria não via.

Um comentário:

  1. Publicado o conto da moça sem braços e pernas que me disse há um bom tempo atrás.


    tá muito bom! Adorei =)

    ResponderExcluir