quinta-feira, 5 de agosto de 2010
LEIA-ME
Adivinhe-Me/ Nas senhas nuas/ acima dos olhos/ em cima das roupas/ No que a palavra não lê/ busque-Me no decifrar das idéias/
sexta-feira, 16 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Patinho Feio
Serra Lagoa foi esquecida pelo mundo. E como não há lembranças convém dizer que esta fabulosa história foi contada por um de seus moradores em 1989, na casa de tia Veridiana. Era uma tarde de outono. Todos sentados na roda do chimarrão... E ainda sentia-se o cheiro das colônias gaúchas.
Tio Astolfo Severo Oliveira Bastilho era um nobre cartorário. Responsável pelas documentações obrigatórias dos poucos moradores da minúscula província... Ainda vivo e muito piadista nesse ano de 89. Quando a tarde foi tomada, pelas recordações da historia da casa dos mortos.
A casa – que já teve sua cor escura, com bordas violáceas – foi assombrada anos antes. Para ser mais preciso na década de 70. Quando nela nascera o único filho de Creusa Vinta. Única herdeira da casa. Solteirona na casa dos 40, por sorte dela e azar da criança, ele nasceu.
Cresceu sendo chamado de Feio. Apelido dado por tia Neca, no dia em que ela teve os olhos arregalados pelo susto. Ao ver a imagem tenebrosa no espelho da criaturinha que segurava nos braços. Tão feio era o reflexo que não lhe outro adjetivo para descrever. Sem hesitar, engasgada pela baba que escorria de sua voz fanha, atirou o pequeno no berço escuro de madeira. Arrancou os bob´s que prendiam os cachos por encaracolar e cada fio se arrepiou no susto da imagem que viu refletida.
Nesse momento do enredo chegou prima Antha. Que vinha ser sobrinha neta da falecida Neca e que tinha muitas perícias a relatar deixadas pela tia avó. Que, segundo ela, fora a primeira assombrada pela figura da criança azarada.
O mais intrigante de todos os testemunhos é que nenhuma das cinco tias, apoiadas em suas cadeiras estofadas, construídas de ipê, de cores vinho e com estofado de um verde escuro, com desenhos florais, nenhuma delas nem um outro conseguia descrever as feições da pobre criança.
Creuza Vinta foi herdeira de tio Menelau. Primo irmão de tio Astolfo e sobrinho direto das cinco tias Marias. Menelau morreu aos 80 anos. Cansado das rodas de tereré e das tardes sentado em frente a casa rosa observando o vazio da praça. Mas foi sua esposa, tia Zumira quem escolheu o nome da filha mais velha. Em homenagem a linhagem de tias e tias avós freiras. Que seguia uma ordem de um nome composto organizado pelo nome numérico. Todas elas já nasciam com esse rotulo. Para que seu destino se cumprisse num convento. Mas assim ocorreu até Ofélia Dozina, pois quando sua irmã dera o nome para filha ela não imaginou que o tabelião tio Abílio, pai de Astolfo, embriagado pelas comemorações do casório errara a certidão, invertendo os nomes... E Zenilda Treza, acabou se chamando Trezenilda. E aos 13 anos já declarou que jamais seguiria a tradição. Fugiu com um caminhoneiro carregador de ipês. Que vinha do mundo e iria para o Sul.
A partir de então os nomes foram seguindo a mesma ordem, mas nunca mais se tiveram freiras no vilarejo.
Assunta Dezenovina quase voltou a caminhar pela tradição. Já tinha decidido por ser uma devota religiosa. Não fosse ter se apaixonado por um jovem mulato, filho do pastor mudando o rumo e até de religião.
Creuza Vinta chorou muitas noites desconsolada pelo cabelo ruim. A pele ilhada pelas espinhas e a cintura que nunca se afinara. Suas pernas tortas, coxas finas e enormes panturrilhas foram conseqüência da meningite quando criança. Ela berra feito cabra e pergunta a mãe desalmada porque a peste não a matara ao invés de enfeiá-la. E a pobre mãe dizia que ela já nascera disforme, desprovida de qualquer artifício de beleza feminina. A doença apenas entortou suas pernas e a fez estrábica assim como o tio Bobo.
Tio Bobo foi atingido por um raio num dia de chuvarada e ficara com os olhos virados e a cabeça desregulada. Então desde os treze anos andava pela rua a dizer coisas sem sentido. Desaparecia apenas em dias de temporal. Quando se embrenhava pela fazenda esperando um outro raio para desfazer a desgraça. Mas tia Perola Sabiá, que vinha a ser esposa de Abílio, sempre alertou que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, que dirá na mesma cabeça.
Creuza passou os 39 anos chorando desconsolada até o dia em que um homem mudou sua vida.
Foi Getulio Gato. Um bicheiro viajante que se hospedou na pensão de Dona Amália, minha mãe. A pensão que vizinhava com a casa escura. Ele encantou Creuza com seus modos elegantes. Deu a ela um botão de rosa. Poetizou o momento comparando a formosura dela com a rosa. Ela enrubescera.
Não dormia mais. Apenas continuava comendo. Porém não engordava um quilo. Polemica que gerava horas de discussão entre as tias.
O casal de namorados passeava pela praça todos entardeceres. Jantavam juntos e ouviam as melodias tocadas na arpa por Eurico, primo de meu pai.
Os meses iam. A casa escura se encheu de flores. O desejo aflorava dia após dia na carne dos amantes.
Então Creuza engravidou. Gato estava pronto para o casório quando fugiu.
Sumiu ao saber que por ali andava um tal Chico Leitoa. Bandido de fronteira. Vinha para um acerto de contas, diziam.
Foi-se deixando uma carta perfumada para Creuza. Afirmando no papel que voltaria dentro de dois meses. Passaram-se vinte anos até a morte de Creuza e ela esperou cada dia sem qualquer noticia do paradeiro do pai de seu filho.
Fernando Feitor foi o nome escolhido por ela para o bebê. O tal que sempre ao ser colocado diante do espelho tinha a face e todo o corpo desfigurado, causando pânico aos outros.
E isso até seus vinte anos quando morre a mãe. Ele é o único agora a viver isolado na casa escura. Agora chamada por todos de a casa dos mortos, devido aos barulhos que se ouve. Ninguém jamais consegue entender a causa dos barulhos já que na casa vive apenas o jovem rapaz. Que tem o rosto impecavelmente branco, olhos da cor do céu, pele aveludada, mas que nunca se olha no espelho.
terça-feira, 25 de maio de 2010
doses de veneno
Enquanto a chuva se espalha, ela cobre os espelhos. Pedro abraça o violão e compõe uma nova canção. Ela acende as velas, fecha os olhos e faz uma oração...Amanda foi sem Pedro, decidiu seguir sem ele. Tia Amaranta quebra o copo, lê o destino e perde o chão...Pedro não correu atrás de Amanda, não derramou lágrimas nem caminhou de volta. Amanda visitou as cartas e saiu a fim de realizar seu destino. Ela quis sair, tocar o mundo, ver Paris e melodiar seu refrão. Ela sorria e o mundo aplaudiu...Maquiou o sonho enquanto pôde por causa de Pedro...O amor fala mais alto. Mas as cartas determinaram sua escolha. Ela não quis mais enganar um sonho que começa a acordar. Tia Amaranta sabia ler o que ainda não era, mas o que um dia seria...Pedro & Amanda se conheceram ao acaso num bar...ao som de BB King..
seus olhos se olharam
seus lábios se beijaram
seus corpos se fundiram!
Marisa interpretava Caetano...ele a pediu em namoro. Aos poucos um foi conquistando o outro, até que o outro era um.
As famílias se conheceram...as mães se enciumaram...Rê - a prima invejosa, o tio solitário, a tia professora, o bêbado filosofo, o primo babaca, o avô com alzeimer...
Antes da briga ela consultou o tarô.
Tia Amaranta lia as cartas, o tarô e assistia a novela das oito tomando coca, afogada num prato de arroz com ovos mexidos.
Amanda decidiu viver o sonho. Pedro adormeceu sonhando viver ao seu lado.
A chuva se cansa de molhar as lembranças. Pedro não termina a melodia. Amanda fecha os olhos. Pedro abre os braços. Amaranta fecha a casa...Ele acorda...elas se deitam. Ele liga...ela atende.
Ele chora, ela suspira!
Ele atira...ela espera...
declara seu amor...Ela espera o tempo secar...Sua resposta repousa no ar... Cada som tem sua nota...cada um a sua história...
ela soube do fim! ela soube por mim...e partiu atrás do sonho...
Amaranta espera que um dia se esclareça... Pedro supera a sua perda...Amanda lembra da mentira que eu contei. Amaranta, pobre coitada! Nada tinha a não ser suas cartas....
Pedro as queimou...
eu contei a verdade...mas a que eu montei de verdade...fiz isso por mim...pelo amor que eu desejei desconstruir.
pedro e amanda brigaram então...e a melodia tocou sem refrão
amaranta sobe as escadas, apaga as velas e se atira pela insônia...que adormece num labirinto de dúvidas.
inventei uma traição que aconteceu... mas pobre amaranta...que anoiteceu sem pedro...ele na cama que não era delas.
sem pausas...
meu corpo descansa nos braços do sim
o toque do seu adultério se tocou em mim
pensei em não te dizer, mas por enquanto, espere que o sonho irá acordar!
sábado, 22 de maio de 2010
A casa rosa
O sol batia forte. A casa não tinha mais a cor viva. As cadeiras de ferro já enferrujadas. Lembrava do rosto, mas não do sonho. Que esteve perdido...
Ouvi vozes. O arrastar de minha vó... A distribuição dos móveis era a mesma. A madeira não cheirava mais a ipê...A sala escurecida pelas grandes cortinas rendadas, umas sobrepostas às outras. Uma árvore alta, de flores amarelas, a cor viva. Meu quarto aceso à meia luz pelo abajur pequeno de base cor azul, quebrável. Colocado da mesma maneira, na cabeceira da cama, que possuía um baú com abertura lateral e aparador em cima. A chuva chorou as lembranças. A tarde silenciou o alvoroço de todos que transitavam no passado. E eu encontrando o futuro, perdido nessa memória presente. O tempo levou a vitrola. Os dias se passaram com o vôo dos pássaros, procurando o verão. O chimarrão está frio e a mesa de centro está no canto da parede amparando objetos de porcelana e metal... a imponente estante preta não mais suporta tanto peso sobre ela. Pendida sobre o tempo.
Não ouço as conversas que se misturavam, nem vejo as pessoas amigas que se aglomeravam.
O pó encobriu o deserto das horas. A tela mantem as silhuetas.
A casa rosa não tem mais a sua cor viva... O sol se foi, a neblina envolve a cidadela. Os sonhos são outros. A vida passa...
Ligo o coração, aperto stop... me vou para o norte. E assim a história continua.
descrevo essa memória
para constar.
sábado, 1 de maio de 2010
vi * * * m a r i a
Houve um segredo. De quem teve medo. Guardou-se a sete chaves. As chaves até perderam: nas fagulhas do tempo.
a menina Maria usava vestido rosa, enfeitava o cabelo com um laço e dava um nó nas sandálias que apertava-lhe os pés.
ela apenas via...
apenas via porque não tinha boca, nem tinha nariz, nem tinha ouvido...
ela nunca sorria...ela apenas olhava a água doce do córrego ainda limpo correr para sei lá onde...
uma cobra cascavel veio-lhe tirar os sentidos.
Essa senhora que se arrastava pelos gramados e pela lama da fazenda, não possuía sensibilidade para entender o que uma pobre menina vestida de rosa faria com tantos sentidos...
eis que então tirou-lhe quase todos...
pois deixou os olhos para que ela visse
visse a grama verde sendo comida pelo boi
visse o pássaro voando em comitivas para sei lá onde.
visse ela mesma se arrastando perversa, venenosa e peçonhenta pela areia branca, fazendo trilhas pelo caminho
seu guizo é escutado, menos pela pobre maria
maria menina morena... com olhos de feno
olhos escurecidos que anoiteceram cedo
logo quando a cobra a enrolou pelo pescoço, foi-se alisando e soltando seu veneno...
maria ainda ouvia
ainda ouviu o guizo traiçoeiro
parecia uma música de ninar
mas era a cobra a celebrar
olhos de serpente, corpo comprido... tiraram-lhe mãos e pernas
e ela esbraveja doida
urrando ao céu em nome de algum culpado
pela triste desgraça de rastejar
rastejou muitos morros para chegar em maria
e maria nem nascia
mas quando maria nascia a cobra maldita já vinha
toda se remexendo, serelepe e
tomou a menina e a enroscou... seu guizo feriu os ouvidos
mas ela enganou para que cantasse uma melodia.
maria nascia e morria
morria nela o dia
o dia de sorrir, de falar e de escutar
agora agorinha maria só via
a venenosa abriu a boca, ergueu as presas e envenenou o rio
que corria doce na frente do olho de maria
maria pegou uma enxada...que o pau carpia
sem hesitar abriu a cobra sei lá um dia
tirou todos os seus roubados e costurou
na velha máquina que começava cantarolando um som tão sereno
cheio de batuques e maria ia sorrindo pregando a boca de volta,
o difícil foi o nariz que se entupia por um descuido da pobre maria
mas logo cheirou
e cheirou o rio e lambeu o doce
ai maria! ela nem sabia
que ali o veneno corria...
as chaves desse segredo estavam no bucho da cascavel... ai! eu abri e vi o que ainda maria não via.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
m e m ó r i a s
Sempre quando recordo minha infância, esse é o filme que me vem à cabeça. Eu gostava muito de assisti-lo na sessão da tarde. Eu nem sabia quem era Joana Dar´c. Hoje é um dia nostálgico.
pactuei
inda lembro
como se fosse hoje mas não é
conto inacabado
cidade pequena
fogos de artifício
sonhos de papel
lembro bem
apagado na memória
o teu olhar esperando, tuas orações sonhando, teu corpo vagando
teu sonho ia embora na aurora proutra hora
escutei sorriso. admirado. encantado.
seu nariz arrebitado, agora palhaceia dívidas
e toda alegria adormeceu...que frio que me dá
nas horas que sonho acordado...e meu sono se manda, se manca...e me acorda
pelo despertador cansado
levanto quebrado, mirando o espelho...buscando o teu olhar...ilustrado na memória
que alegria a minha se acordasse aqui ou lá
mas para você estar
mas eu fui e tu ficaste...se mandou e eu olhei a partida
partilhei a despedida
olhei o céu, desmanchei as bolhas de sabão...estendi o coração
tentando achar as rachaduras, tentando costurá-las... que tristeza essa inventada!
que dor mal curada... que triste seria sem tua compania...
e agora se te olho no ontem, vejo o hoje diferente, se te encontro por aí, vejo o ontem que não foi.
como se fosse hoje mas não é
conto inacabado
cidade pequena
fogos de artifício
sonhos de papel
lembro bem
apagado na memória
o teu olhar esperando, tuas orações sonhando, teu corpo vagando
teu sonho ia embora na aurora proutra hora
escutei sorriso. admirado. encantado.
seu nariz arrebitado, agora palhaceia dívidas
e toda alegria adormeceu...que frio que me dá
nas horas que sonho acordado...e meu sono se manda, se manca...e me acorda
pelo despertador cansado
levanto quebrado, mirando o espelho...buscando o teu olhar...ilustrado na memória
que alegria a minha se acordasse aqui ou lá
mas para você estar
mas eu fui e tu ficaste...se mandou e eu olhei a partida
partilhei a despedida
olhei o céu, desmanchei as bolhas de sabão...estendi o coração
tentando achar as rachaduras, tentando costurá-las... que tristeza essa inventada!
que dor mal curada... que triste seria sem tua compania...
e agora se te olho no ontem, vejo o hoje diferente, se te encontro por aí, vejo o ontem que não foi.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Onde o caracol habita
Ela mora num prédio velho.
As escadas são caracol.
Lá embaixo, ela pensa - ainda menina - é onde os mortos escutam.
Mona já tem vinte anos e olha aquele homem com seus olhos dos doze.
Agora, ela ouve gritos. É a mulher dele. Lisa tem cabelos pintados de loiro.
Escuta os tiros. Ele a acertou. Bebeu a tarde toda, deu nisso, pensa a Dona Zilá, vizinha do alto. Onde o caracol olha. E o síndico, Seu Moreira, chamou a polícia. Ele vive no térreo. Onde o bicho esconde o rabo.
Saí do ap. Olhei e vi ele algemado. Olhou para mim, como uma fera, prestes a ser engaiolada.
A loira está com os olhos inchados, enegrecidos. A tinta escorre de dentro do ap.
Ela chora, terminando uma melodia lamuriosa. Lamentando tudo, mas lamentando ter que lamentar. Ela o ama, dá pra ver nos seus olhos.
Seu corpo é colocado numa maca, fecham o zíper. Ela vai para o necrotério.
Coitada!
Morreu loira! Devia querer isso. Nunca deixava o cabelo escurecer direito e já comprava wellaton, pintava fio por fio.
O 38 estava na mão do policial.
Lembrei da fera; nesse momento...
8 anos atrás. A campainha tocou. Achei que fosse a nova moradora, Dona Zilá. Mas era o motoboy. Nunca soube direito o nome dele. Todos o chamavam assim. Acho que era Guilherme, não sei direito. Ele estava na minha frente, pediu um pouco de erva para tomar tereré. Fui à cozinha buscar. Ele nem trouxe nada para levar. Que folgado, pensei. Quando voltei, ele tinha fechado a porta. Vinha pro meu lado. Encostou o corpo no meu e passou a mão na minha bunda; senti um arrepio. Ele começou a se esfregar em mim. De repente abriu o zíper. Tirou o pinto pra fora, duro. Eu nunca tinha visto um pinto de homem adulto. Em volta muitos pelos, negros. Eu corri pro quarto. Ele saltou.
Os pêlos cresceram rapidamente. Seu corpo aumentou de tamanho. Seus músculos tomaram forma monstruosa. Parecia o Hulk, só não era verde. Uma fera. Saltava alto e soltou um urro. Parecia um lobisomem. Mas era meu vizinho. O caracol se contorce. Mas paredes não têm vida. Elas testemunharam mudas. Rasguei as cortinas. Os panos cobrem a dor. Ele me achou. Me pegou nos braços e me jogou na cama com muita força. Ai de mim!
Perdi o rumo. Ele me abriu. Feito uma rosa, aberta pelos espinhos. Tirou minhas pétalas. Animal feroz! Seus pelos entraram por mim. Suas veias corriam no meu sangue. Meu sangue escorreu sobre o lençol.
Ela sorria na duvida; a olhei na certeza de que aquilo já era a minha história. Seu cabelo liso e escorrido lembrava a cor do cabelo da mulher dele; mas sua duvida era a minha. Quem a pintou?
Achei que podia ser como ela, uma tela na parede de um quarto qualquer. Mas meu corpo se movia. Ele urrava e me surrava toda. Suando sobre minha pele. Derramando o cheiro mofado daqueles pêlos todos. Ai de mim!
Agora a fera está algemada. Mas ele poderia fugir, tem muita força. Eu sei!
Será que eu o amei?
Fecham o zíper. A levam para o necrotério. O cabelo amarelo, como ela sempre gostou. Entro no quarto, olho o quadro. Agora eu sei que a Monalisa foi pintada por Leonardo Da Vinci. É o que me disseram.Abro a geladeira, ligo o som, faço um sanduíche, esquento no microondas. Procuro a coca-cola.
sábado, 20 de março de 2010
S e g u n d o ATO

Guarda a moto. Acorda cedo. Toma café...veste o mesmo uniforme. O pai se aposentou. A mãe prepara o jantar. A vizinha lê Calabar...
O ponteiro se adianta. Pedro levanta. Desliga o som, tira o cd. Liga a tv. Põe um filme. Não conta o tempo. Esquece a hora. Bebe o vento.
Paga o aparelho. Compra um tênis, alguns novos cd´s...Alguém o vê
não bebe leite. Não bebia cerveja. Não se senta à mesa. Não vai ao bar. Joga sinuca. Nem esquenta a cuca...Beija na boca. Vai a um motel...Guarda um dolar.
Chega no horário. Bate o armário. Ri a toa. Visita os amigos, tomam tereré, falam de mulher...
acabou o sábado...a moça olha o céu, outra não tira a maquiagem...
Pensa na praia. Olha por baixo da saia. A moça nem nota. Liga o som. Desliga a tv. Abraça a almofada. Coleciona playboy..Faz serviços de motoboy..
enlouquece ao vê-la...Linda e loira..Ela nem o percebe.Mas ele descobre..Seu nome é Amanda!
sábado, 6 de março de 2010
São João
O céu enfeitado de papel. A fogueira acesa. O frio congela os ossos de Novo Horizonte. Pequena cidade ao sul. Ivete beberica o quentão. Termina de cobrir as maçãs do amor. Expõe na frente da barraca de sapé, os quindins feitos por ela. Sorri... Davi procura uma estrada que o destino o leve para longe. Mas sempre se encontra ali, no mesmo lugar, a cada passo mais perdido. Aquele pequeno redemoinho que ele viu aos 8 anos cresceu naquele verão e o engoliu para dentro de seu próprio casulo. A vida esqueceu a maquiagem. Os dias se cansaram de correr. Ivete se lambuza de desejo. Davi tenta fugir, mas o mesmo caminho se torna inevitável em noites sujas e febris. Quando sempre não se tem para onde ir. Ela assiste a quadrilha. Se entope de lembranças. Ele carrega o fardo de não ter fardos. A mãe partiu, com as mãos pintadas de paixão. Abandonou o pai que foi morar numa garrafa de pinga, mergulhado na embriaguez. Ivete procura Chico com os olhos. O irmão dela procura as estrelas que perdeu no céu... mas o céu se encheu de papel, se formando outro obstáculo. A noite nua espera o corpo cru de Davi... ela também o deseja. Janelas se abrem. Maridos fingem o sono para que suas esposas se satisfaçam nos músculos frágeis do garoto de 18. Mas ele fecha seus labirintos. Chico desencontra Ivete. Ela entope o fim com seus quindins. Davi caminha sem fim, esperando chegar a outro lugar.
São João
O céu enfeitado de papel. A fogueira acesa. O frio congela os ossos de Novo Horizonte. Pequena cidade ao sul. Ivete beberica o quentão. Termina de cobrir as maçãs do amor. Expõe na frente da barraca de sapé, os quindins feitos por ela. Sorri... Davi procura uma estrada que o destino o leve para longe. Mas sempre se encontra ali, no mesmo lugar, a cada passo mais perdido. Aquele pequeno redemoinho que ele viu aos 8 anos cresceu naquele verão e o engoliu para dentro de seu próprio casulo. A vida esqueceu a maquiagem. Os dias se cansaram de correr. Ivete se lambuza de desejo. Davi tenta fugir, mas o mesmo caminho se torna inevitável em noites sujas e febris. Quando sempre não se tem para onde ir. Ela assiste a quadrilha. Se entope de lembranças. Ele carrega o fardo de não ter fardos. A mãe partiu, com as mãos pintadas de paixão. Abandonou o pai que foi morar numa garrafa de pinga, mergulhado na embriaguez. Ivete procura Chico com os olhos. O irmão dela procura as estrelas que perdeu no céu... mas o céu se encheu de papel, se formando outro obstáculo. A noite nua espera o corpo cru de Davi... ela também o deseja. Janelas se abrem. Maridos fingem o sono para que suas esposas se satisfaçam nos músculos frágeis do garoto de 18. Mas ele fecha seus labirintos. Chico desencontra Ivete. Ela entope o fim com seus quindins. Davi caminha sem fim, esperando chegar a outro lugar.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Cenas de Amanda
Amanda tem 30. Abre o licor...bebe no final do dia. Retira o sal, banha o amargO e prova novos modelos. Roda o cd, mergulha em sais; se atira na piscina! Desliga o ar, perde as chaves, não tem marido. Se banha com dove, shampus natura, perfumes importados, fragrâncias adocicadas. Escuta Shakira, Alanis e Led Zeplin. Tem um quadro do Chê, comprado na feira...um isqueiro europeu, um vinho do porto, um batom prada, um salto 18... Coleção de sandálias, uma bolsa victor hugo e um mp4. Ela acessa o orkut, vê novelas, lê romances, esquece de tomar o chá...almoça alface, se entope de torradas, de ansiolíticos e cigarros. Deixa ligadas as tomadas...Bebe cerveja, depila o corpo, fecha a cortina e abre o refrigerador! Aquece o banho, gela a noite... Lembra dos amigos que estão longe, esquece de telefonar para os que estão perto; Sonha acordada, acorda atrasada, quebra o despertador... conserta o motor. Acaba a gasolina, começa terapia, vai pra academia e volta do churrasco. Quer um cão, não come pães, liga pros pais e desliga o celular. Fecha um contrato, estraga o armário e abre a porta. Surpresa! Mais um aniversário... Alguém liga o som, todos repetem o mesmo refrão. Ela sai de cena e o dia acaba.
esse conto é o segundo da trilogia iniciada com Rosa em cena. Espero que apreciem!
sábado, 6 de fevereiro de 2010
C O N T O
As pessoas sempre contaram histórias, reais ou fabulosas, oralmente ou através da escrita. O conceito de conto, hoje em dia, foi ampliado em relação a este citado acima. O conto é a narração de um fato inusitado, mas possível, que pode ocorrer na vida das pessoas embora não seja tão comum.
Como narrativa escrita o conto surge na literatura Brasileira durante o início do Romantismo, mas os autores românticos não conseguiram se destacar através desse tipo de texto. O primeiro grande contista brasileiro, Machado de Assis, iria surgir no início do Realismo, e seu nome se tornaria consagrado pelo brilhantismo com que dominava as palavras.
Além de fecundo na diversidade temática, os contos brasileiros são fecundos na produção. Talvez isso aconteça porque os contos produzidos no Brasil, principalmente a partir do modernismo, tem adquirido identidade própria e se manifestado das mais diversas maneiras, de modo que dificilmente são fiéis às características acima citadas.
Podemos até arriscar falar sobre alguns tipos de contos, como os contos alegóricos, os contos fantásticos, os contos satíricos, os contos de fadas, entre outros, mas não podemos traçar características fixas para eles, justamente devido a essa liberdade que os autores têm de imprimir novas características a cada conto que produzem.
Rosa em cena
Rosa vestiu chita. Acordou apressada. Foi ao salão, costureira, Dona Cica. Pediu escova, tirar as barras das saias e diminuir os babados... Fez um corte de cabelo alado. Tirou franja, pintou as unhas, limpou os pés. Foi pra casa, fritou o quiabo.. Preparou o molho, cozinhou no azeite o macarrão. Descongelou a carne. Mergulhou o arroz, temperou o feijão. Do preto. Sentiu falta da calabresa, contou as moedas, visitou a vizinha...encheu o tanque... esfregou as calcinhas. Queimou a barra nova da saia. Gritou de raiva. Limpou a casa. Encerou o piso, varreu o quintal. Lavou a calçada. Ligou o som, encheu as formas de gelo. Passou um café. Queimou a tomada. Devorou o almoço. Foi ao orelhão. Derramou duas lágrimas, acabou o cartão. Passou na padaria, comprou pão, mussarela e mortadela. Contou os centavos. Pediu um cigarro. Visitou a vizinha. Encheu a jarra de gelo. A cuia de erva. Sentou na calçada. Tomou tereré. Deu oi pro amigo de escola. Comprou um cartão para celular. Ligou para prima. Amanhã vão almoçar... As duas adoram fofocar. Lembrar do passado, falar dos temperos, das novas roupas e invejar os sapatos. Pensou no trabalho. Lembrou do filho que um dia vai ter. Ligou a tv, o ventilador. Riu sozinha. Estourou a pipoca, abriu o livro. Fez sanduíches. Passou o café. Terminou de ler. Visitou a tia. Passou na feira, passeou na praça, tirou as sandálias. A noite acordava, o dia sumia. Olhou para o céu, apalpou as estrelas. Ia para casa, queria ir embora. Quem sabe um dia, não agora. Pintaria a casa, quem sabe outra hora. Juntaria dinheiro, voltaria para faculdade. Novos amigos... um amor do seu lado. Visitaria a mãe... diria ao pai que o ama. Tomou um banho. Pegou um livro, do Paulo Coelho. Ligou a tv...queria ver um filme...se embrenhou na leitura. Esquentou a janta...abriu a fanta. Lembrou da cerveja e sentou pra jantar...queria um sonho, mas tinha tantos...Ia terminar o sábado...
de Hugo Espíndola ( Esse conto faz parte de uma trilogia, que irei publicar com o tempo)
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
espiral
{Lendo: Agatha Christie
Vendo: Desperate housewives/ gossip girl/ grey´s anatomy
Ouvindo: Mary J}
um começo...
Hoje à tarde no meu local de trabalho, alguém ia usar a expressão recomeço. Mas prontamente trocou por começo...Acredito que, nesse átimo de tempo, ela deve ter pensado em como pode ser cansativo recomeçar. É diferente, apesar dá conexão. Começar é nascer. Pronto. Tudo é novo, tudo é novidade. Isso causa diferença. Começar um ano, começar um novo trabalho, uma nova turma, uma nova casa, uma nova cidade. Apesar de algo familiar, é um novo começo;
Esse é meu segundo blog. Ou terceiro? Quarto? ... Esse é meu novo blog. Pretendo escrever cartas engarrafadas, como queria minha irmã. Escrever leituras imaginárias. Pensamentos sóbrios, insanos. Sentir as perguntas vivas, latentes. Sem senhas, com malabarismos. Embriagado pela ficção. Sinto-me um conto inventando-se agora. Um poema sendo impresso.
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"Nesse momento há 6 bilhões, 470 milhões, 818 mil, 671 pessoas no mundo
algumas estão fugindo assustadas.
algumas estão voltando pra casa.
algumas dizem mentiras pra suportar o dia.
outras estão somente agora enfrentando a verdade.
alguns são maus indo contra o bem.
e alguns são bons lutando contra o mal.
seis bilhões de pessoas no mundo,
seis bilhões de almas...
e ás vezes tudo que nós precisamos é apenas uma!"
( frase retirada do seriado one tree hill)
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